terça-feira, 1 de dezembro de 2009

EROTISMO NÃO É PORNOGRAFA





Erotismo e Pornografia

Sexualidade é componente fundamental de todo ser humano, é uma modalidade global do ser nos confrontos dos outros e do mundo, vinculando-se a intimidade, a afetividade, a ternura, a um modo de sentir e exprimir-se, vivendo o amor humano e as relações emocionais e afetivo – sexuais; é contato, relação corporal, psíquica e sentimental, é o desejo voltado a pessoas e objetos, é sonho, prazer, mas também sofrimento; é pressentimento do futuro, consciência e plenitude do presente, memória do passado, sentimentos que se alternam, se cruzam de modo imprevisível, exigindo uma progressiva capacidade de compreensão e aceitação, sempre vinculadas a intensas sensações corpóreas.

Erotismo é uma forma de estimular o impulso sexual .O impulso sexual é o componente psicossomático do comportamento sexual, é o afluxo vital das energias sexuais; são semelhantes, porém não iguais aos instintos.

Sua manifestação pode sofrer influência externa, através da Educação da Ética e da Moral, porém não pode ser completamente controlado pelo esforço da vontade consciente. O impulso sexual quando demasiadamente reprimido, ressurge em subprodutos como a doença mental, compulsão sexual neurótica, e os desvios de conduta.

O homem atual necessita equilibrar as forças do impulso sexual, conduzindo-o para formas de comportamento sexualmente aceitas na sociedade.

Pornografia é um tipo especial de erotismo, mobilizam-se figuras do imaginário através de fotografias, imagens, desenhos, contos, filmes eróticos, etc, com o objetivo de estimular o desejo, de fantasiar um relacionamento sexual, em uma masturbação ou mesmo mobilizar-se para uma relação sexual concreta.

A fantasia é a mola propulsora da realização sexual, é inerente ao ser humano, desde criança, com as brincadeiras de faz de conta, à velhice, apenas modificando a sua forma e conteúdo.

Todos temos fantasias. Aqueles que acham que não as têm estão reprimindo-as inconscientemente não se permitindo experimentá-las enquanto fantasias.As fantasias sexuais são inevitáveis e saudáveis, tendo grande importância na vida sexual, pois alimentam uma parte do desejo e dás motivações sexuais, tendo sua gênese no impulso sexual.

Na sociedade moderna, a pornografia passou a se diferenciar do erotismo nos aspectos estéticos e éticos, no conteúdo mais explícito da pornografia e mais implícito do erotismo, no reforço pornográfico da relação genital sem envolvimento, sem compromisso e sem afeto, apenas enfatizando o prazer solitário masturbatório, evitando o requinte artístico, a profundade e o clima de paixão e enamoramento sempre presentes no erotismo.

A tentativa de distinguir o Erotismo da Pornografia é recente, sendo importante lembrar que devido a diferenças culturais, pessoais e sociais, até mesmo a delimitação daquilo que é considerado material erótico varia muito, em épocas diferentes e mesmo em diferentes meios dentro de cada sociedade.

Mas em linhas gerais neste trabalho, vamos considerar que o que distingue o erotismo da pornografia é a originalidade, que tem como sinônimos- raridade, novidade, frescor.


Aspectos Gerais do Erotismo e da Pornografia


Na mitologia Grega Eros é ao mesmo tempo uma das energias primordiais, gerador da união do Céu e da Terra, e o aparentemente inofensivo Cupido, o filho maroto de Afrodite, a Grande Deusa do amor em todas as suas formas. O mito de Eros une o Universal e o singular, encarna o sublime amor e o fogo da paixão, resolve o problema da gênese do mundo. É energia de ligação do Cosmos com cada ser vivo. Em suas flechas esconde o poder sobre o desejo, a fantasia, o impulso erótico.

Eros é atração, cria dentro de cada indivíduo o desejo de se completar com o outro e com o mundo, anseia eternamente pela fusão com o objeto do desejo, seu impulso maior é o anseio de vida, de permanência, de continuidade, uma atração quase irresistível, repleta de sensações intensas .

O Erotismo é essencial, é uma das forças da psique em busca da auto realização, mas é também uma força titânica, visceral do mundo e de todos os seres da criação .

Erotismo é uma palavra que pressupõe um conceito de arte e uma existência da própria arte erótica. Vale lembrar: o erotismo é um objeto estético, feito para ser visto e apreciado pelo seu valor próprio; suas características especiais o colocam longe da pornografia quotidiana .

O Erotismo diz respeito ao belo, à estética sexual, a arte de transformar corpos em obras de arte. A Psicologia, ao estudar a estética erótica, descobriu que as pessoas fazem sempre os mesmos juízos fundamentais, dada a estrutura neuro-perceptiva semelhante, porém nossos gostos e opções são exclusivamente condicionados pela cultura na qual estamos inseridos. No entanto, é impossível reduzir o erotismo a um conjunto de regras a serem aplicadas em toda parte, como também é complicado definir qualidades absolutas em estética erótica fora do contexto do seu tempo.

O erotismo está sempre se transformando, abrindo nossas percepções a novas experiências sensoriais. Todos sonham com uma imagem idealizada do feminino ou do masculino, é nossa imaginação trabalhando, criando imagens, um quadro no nosso espírito. O homem é o único animal capaz de usar a imaginação para contar histórias, pintar, esculpir, representar criando arte. A necessidade de fazer arte erótica é exclusiva do bicho homem. O homem possui uma faculdade estética, a capacidade de criar arte é um dos traços distintivos do homem, que o separa das outras criaturas animais.

Uma imagem erótica vale milhões de palavras, não só pelo seu valor descritivo, mas principalmente pelo seu valor simbólico. Os instrumentos da fantasia consistem no conteúdo, mas principalmente na forma. Recorrem à alegoria, à expressão facial para sugerir significados, para evocá-los através de elementos visuais, como traço, cor e composição.

O lendário Orfeu, tinha poderes divinos de inspiração e acreditava-se que possuia a capacidade de, em transe, penetrar nas profundezas do mundo dos sonhos, podendo voltar ao reino dos vivos sem nada sofrer. Graças a esta capacidade única e de seu talento para exprimir esse desconhecido através do erotismo, apoderou-se das forças secretas do homem e da natureza. Ainda hoje o artista erótico, permanece um mago, cujo trabalho nos perturba e envolve.


O Erotismo na Historia Ocidental


O mais antigo texto sobre erotismo que já foi publicado é o "Banquete de Platão": o narrador Aristófanes conta que, na Origem a humanidade se compunha dos homens, das mulheres e de um terceiro ser denominado Andrógeno.

Os Andrógenos eram seres mais completos possuiam grande poder, encorporavam o masculino e o feminino, tendo o melhor destas duas dimensões do humano.

Possuíam a forma esférica, mais perfeita e aprimorada, possuiam sempre, quatro mãos, quatro pernas e quatro orelhas, duas cabeças, dois órgãos sexuais e uma cabeça, mas cometeram o erro de desafiar os Deuses. Então, como castigo, Zeus, o grande rei do Olimpo, o símbolo máximo da consciência, os separou com seus raios. Cada Andrógeno foi cortado em duas partes, passando a sentirem-se mais fracos incompletos e infelizes .

Os novos seres mutilados passam a procurar em toda parte sua cara metade, sua alma gêmea, Quando acontece de se encontrarem novamente, a atração é extremamente forte. Com muito erotismo desejam restaurar a antiga perfeição, se entrelaçam, tentam se fundir, se perder um sobre o outro, no entanto apesar da

intensa predisposição de ambos, a fusão é sempre momentânea e está condenada a desaparecer, para que a identidade sobreviva e cada indivíduo possa continuar como um ser distinto.

A Antiguidade clássica é pródiga de relatos sobre a vida erótica Grega, as cortesãs, a vida das prostitutas, a homosexualidade socializada e a riqueza erótica das estátuas, quase sempre, nuas e com os órgãos sexuais em evidência, os quais serviam de material pornográfico para a masturbação.

O Império Romano domina o Ocidente e em seu período decadente perde sua ética e valores, cedendo lugar a uma crescente brutalidade sexual nas figuras de Nero, Tibério e Calígola. A Idade Média, dominada pela religião, promove a repressão da sexualidade e mantém a política de eliminar o erotismo através da culpa, auto-flagelos, castigos físicos e sublimação religiosa. No século XIV, Bocaccio, publica Decameron, com as confissões de pessoas da nobreza, ligadas a aventuras de amantes e maridos infiéis, porém o sexo acontece promíscuo e hipócrita, como o "diabo gosta" .

Surge o Renascimento da cultura Ocidental. Na Itália, Aretino publica contos eróticos; na França de 1740, surge o mais famoso escritor de erotismo, o grande Marques de Sade associando sexo e crueldade em meio a luxúria palaciana. Na Àustria, alguns anos mais tarde surge Leopold Von Sacher –Masoch com seu romance autobiográfico, "A Vênus das Peles" onde consolida as bases do sadomasoquismo moderno .

Na Inglaterra, John Cleland, publica "Fanny Hill" uma das mais importantes obras de pornografia já escritas. Nos finais do século passado acontecem associções fortes com pornografia homossexual. Oscar Wilde, publica em 1891 "O retrato de Dorian Gray", onde a pornografia começa a ser vista como forte apelo de vendas.

O século XX, presencia o surgimento de uma pornografia vinculada ao processo de industrialização e ao mercado. Com o Cinema a partir de 1921, já podem ser vistas cenas de banho em cachoeiras, cenas com emoções fortes e figuras semi nuas. A partir de 1933, por três décadas, há uma pausa na produção de filmes eróticos. A Europa de 1950 presencia o crescimento acentuado de casas de strip-tease, e dos Estados Unidos da atualidade, importamos as casas especializadas em produzir material erótico e pornográfico, as Sexshops. Hoje presentes em todo o mundo evidenciam a banalização do erotismo, hoje presente no cotidiano de cada indivíduo.

O Brasil nasceu erótico. Desde o descobrimento, os Portugueses sempre descreviam o novo mundo como um paraíso de sedução. Pero Vaz de Caminha, em suas famosas cartas da terra de Santa Cruz, descreve com grande carga erótica a nudez das índias do Brasil.

Mantivemos durante séculos a tendência de exportar toda uma cultura sexual, costumes, valores morais e padrões estéticos europeus. Hoje a influência ficou transferida para o padrão Americano de vivência sexual .


Acessórios e Recursos Sexuais


Consideramos o erotismo como essencial para o prazer e a pornografia como um acessório, um recurso sexual, que pode ou não estar presente. Entendemos como acessórios e recursos sexuais todo tipo de objeto ou artifício utilizado para obtenção do prazer sexual, sem que no entanto sejam essenciais para a efetivação do mesmo, são portanto implementos da relação sexual.

No decorrer da história das civilizações estes recursos e acessórios foram muito utilizados; desde os tempos pré-históricos o homem se servia de artifícios para provocar o interesse sexual e a obtenção do prazer.

Hoje os acessórios e recursos sexuais são múltiplos e extremamente variados, estando sempre vinculados à fantasia e à criatividade, que são potencialmente infinitas.

Para podermos organizar didáticamente estes recursos e acessórios, passamos a considerá-los como estimuladores dos órgãos da percepção, já que estes são as vias de entrada para a construção de imagens e fantasias.

Existem portanto cinco categorias de estímulos e recursos sexuais; os Visuais ( pinturas, fotografias, filmes, CD-ROM eróticos, etc.) Táteis ( tecidos especiais, óleos massageadores e ou lubrificantes,vibradores, objetos que provoquem frio, calor, dor, etc. ) Olfativos ( essências aromáticas, perfumes, cheiros corporais, etc.) Gustativos (temperos afrodisíacos e estimulantes, bebidas, etc.) Auditivos ( músicas, sons, ruídos eróticos, etc.) Temos o objetivo de mostrar como estes recursos podem ser utilizados na terapia sexual, bem como de forma saudável pelos casais em geral.

É interessante observar como a própria natureza é prodiga em recursos para o prazer e o deleite do homen, basta lembrar que a suculenta, aromatizada e vermelha maçã é o símbolo do pecado, os aromas naturais do corpo excitado são extremamente afrodisíacos, e todos sabem quanto é contagiante o prazer e a fantasia despertadas pelos sons emitidos por um casal fazendo amor, os gemidos, gritos e sorrisos dos amantes despertam o desejo sexual. Quem nunca se excitou numa fazenda observando os animais machos disputando suas fêmeas, qual mulher desdenharia o poder que existe em estar perfumada, penteada, vestida com uma roupa sexy ?

Os homens sabem que as mulheres adoram quando eles usam ternos macios e perfumes vigorosos, todo mundo reconhece o poder de um jantar à luz de velas regado com um bom vinho. Tudo isto que citamos são recursos, artifícios eróticos.

Capacidade de despertar o desejo sexual através da visão do ato sexual, seja de modo indireto quando assistem um filme erótico ou compram uma revista pornográfica, ou de forma direta quando observam sua parceira no ato sexual, este tipo de estímulo visual pode facilmente mobilizar a fantasia a serviço do orgasmo.


Erotismo Masculino e Feminino


O erotismo, a energia do Deus do Amor, se apresenta sob o signo da diferença, dramática e misteriosa. O homem apresenta um erotismo que enfatiza o visual e certas partes do corpo feminino, como podemos observar pelo grande número de revistas pornográficas. A mulher alimenta-se de imagens fantásticas e de um erotismo mais tátil, a pele é a maior zona erótica feminina.

O erotismo masculino é mais visual, mais genital, o feminino, mais tátil, muscular, auditivo, mais ligado aos odores, à pele, ao contato.

Os homens se excitam com a nudez feminina, as mulheres também se atraem pelo nu masculino, porém tem maiores fantasias com homens completamente vestidos, muitas vezes com uniforme. Os homens conseguem se excitar facilmente com fotografias, estátuas e a literatura erótico pornográfica.

O material pornográfico masculino, consiste em um suceder contínuo de atos sexuais, sem necessidade de uma história, servindo apenas como acessório para a masturbação ou as preliminares.

Os heróis pornográficos das revistas masculinas, perdem pouco tempo com a conquista e os prelúdios amorosos, tão ao gosto feminino. As mulheres, na pornografia masculina são imaginadas como fabulosamente sensuais, arrastadas por um impulso irresistível de atirar-se sobre o pênis masculino, atribuem a elas os mesmos impulsos masculinos. A imaginação erótica masculina pura livra-se de tudo o que lhe possa servir de obstáculo, ele sonha com a satisfação instantânea, sem necessidade de trabalho, é uma potência irresistível, todas ficam excitadas, cheias de desejo, é o encontro do macho com a fêmea no cio. A razão, a civilização, a educação, são frágeis barreiras que um simples toque faz desaparecer.

O erotismo feminino, pede o romance, o apaixonar-se lentamente, a descoberta, o deslumbramento da donzela, o homem extraordinário que a tira do lugar comum, belo, forte, seguro, porém distante, fascinante e inatingível e mesmo assim, num golpe de mágica a reconhece na multidão, descobre-se loucamente apaixonado, essa criatura selvagem, indomável, interessa-se por ela. Surge a figura da rival, mulher sem preconceitos, mestra na arte de seduzir, que ameaça sua conquista, depois de grandes dramas, no final do conto ambos se reconhecem apaixonados, toda desconfiança se desfaz, o homem é redimido e aceito finalmente pela mulher.

Nos contos e romances para mulheres, as emoções profundas, o erótico não é o relacionamento sexual, mas sim a languidez, o arrepio causado pela emoção, a inquietação do ciúme, a paixão que vem sem ser chamada e que aperta o coração, que faz sofrer, que faz esperar. O erotismo surge da inusitada paixão do herói pela Cinderela. É também ansiedade, é o medo de não ser amada, é necessidade de ser procurada, constante e continuamente.

É importante ressaltar que não existe material erótico específico para homens ou mulheres, é a própria pessoa que vai ter de selecionar o tipo de estímulo erótico que mais acione sua libido segundo suas opções sexuais .

Algumas pessoas sentem grande constrangimento em se expôr a este material, junto com seus parceiros, a sugestão neste caso, é dialogar com o parceiro sobre suas dúvidas e temores, se a ansiedade estiver muito presente tente utilizar estes recursos primeiro sozinho, levando para a transa do casal somente aquilo que mobiliza a fantasia de ambos.

Fabiano Puhlmann Di Girolamo
Psicólogo e Sexólogo


© Revista Psicologia - Catharsis: revistapsico@uol.com.br

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