quarta-feira, 20 de abril de 2011

Plotino e a questão da alma


Filósofo patrístico pré-nissênico e místico romano de Nicópolis, no Egito, o último filósofo antigo a criar um grande sistema, o neoplatonismo, cuja importância está em haver dado embasamento intelectual às religiões orientais e finalmente ao próprio cristianismo, sobretudo para teólogos como Agostinho de Hipona.



Estudou em Alexandria, então o maior centro cultural, entre o Oriente e o Ocidente, passando a pertencer ao círculo de Amônio Sacas (232), permanecendo por onze anos (232-243) com seu mestre estudando filosofia em Alexandria. Por ocasião da expedição do imperador Gordiano (224-244) contra os persas, o acompanhou, aproveitando a oportunidade de tomar contato com os sábios daquela remota região, viajando pela Antioquia e pela Pérsia. Depois seguiu para Roma onde abriu sua própria escola (244) e ali viveu como asceta e celibatário. Elaborou as suas famosas Enéadas (253-269), reunidas em seis grupos de nove tratados por um seu discípulo, Porfírio o Fenício (232-304), o mais fiel dos seus discípulos, e publicadas postumamente.


Plotino entendeu que se a Alma dos seres humanos (a minha e a tua) procedem da Alma Universal, e essa Alma sendo Una, todas as Almas serão essencialmente unas e estarão interligadas em comunicação recíproca, ainda que esta intercomunicação, na maioria das vezes, seja inconsciente einvoluntária. Isto equivale  a dizer que Tudo é Um e que somos todos Um. O que varia é a percepção individual consciente do Uno. Este é o verdadeiro e irreduzível entendimento de Fraternidade Universal. Todavia, lamentavelmente, ainda que educativamente, a tão desejada Fraternidade Universal, nesta Dimensão, em seu Summum Bonum estrito, é uma idealidade utópica, porque a fragmentação e a multiplicidade não podem compreender a Unidade, enquanto se manifestarem fragmentadas e múltiplas  O surgimento da matéria, segundo Plotino, deriva da exaustão e do enfraquecimento progressivos da própria potência do Uno.


 E como há, segundo Plotino, minimização freqüencial do próprio Uno no Plano Material, a matéria é um mal, não porque se oponha ao Uno–em–si, mas por, neste Plano, ser praticamente quase imperceptível a Sua presença. Nesse processo de afastamento do Uno (e apesar de a Alma individualizada estar enfraquecida, porque se volta mais para si do que para Nous) é ela quem cria, dá forma e se esforça para retornar para a Luz. É um processo permanente de criação e de luta pela redenção da matéria criada e pela sua própria (igualização), porque a redenção da Alma está, segundo Plotino, implicitamente atrelada à redenção da matéria por ela gerada.



Já a Alma do homem, afirmou Plotino, é preexistente no estado de Alma pura, mas deve, ainda que temerariamente, descer aos corpos para concretizar as potencialidades de Nous. Nesse sentido, o homem é fundamentalmente uma Alma, e seu destino cósmico a Reconjugação com o Uno, o que é possível e desejável ainda neste Plano. Isto é plausível, no entendimento de Plotino, através de um processo sucessivo de purificações, cujo estágio final é o da Imersão no Uno pelo Silêncio Metafísico Interno da Contemplação. Para Plotino, nessa imersão há o Êxtase, que é um estado de Hiperconsciência da Alma.

Frases de Plotino:

Imaginai-vos uma fonte que não tem origem. Entrega toda a sua água aos
rios, não se esgota por isso e se mantém em seu mesmo nível. Os rios que
dela partem confundem suas águas antes de tomar cada um seu curso
particular.

Alguém poderia ver a grandeza e a potência da sapiência pelo fato de ela ter
nela mesma os seres e os ter produzido e de todas as coisas derivarem dela.
Ela mesma é os seres, eles nasceram com ela, e ambos são uma única coisa, e
o ser lá é sapiência.

Uma sapiência [o mundo inteligível] cria todas as coisas que são geradas,
seja as coisas produzidas pela arte seja as coisas naturais, e a sapiência
governa a criação por toda parte. 

Este Universo – permanecendo cada uma das partes isto que é, sem se
misturar – é todas as coisas juntas em uma... Este Universo é... potência
universal que vai ao infinito, potente ao infinito.



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