sábado, 31 de julho de 2010

RAIMUNDO CORREIA, POR CHICO CHAVIER


Raimundo Correia

NASCIDO a 13 de maio de 1859, a bordo do vapor São Luiz,
na baía de Mangunça, litoral do Maranhão, e desencarnado em
Paris a 13 de setembro de 1911. Magistrado, membro da Academia
Brasileira de Letras; além de justo e bom, pode sem favor
considerar-se um dos maiores poetas da sua geração.

Sonetos

1
Tudo passa no mundo. O homem passa
Atrás dos anos sem compreendê-los;
O tempo e a dor alvejam-lhe os cabelos,
À frouxa luz de uma ventura escassa.
Sob o infortúnio, sob os atropelos
Da dor que lhe envenena o sonho e a graça,
Rasga-se a fantasia que o enlaça,
E vê morrer seus ideais mais belos!...
Longe, porém, das ilusões desfeitas,
Mostra-lhe a morte vidas mais perfeitas,
Depois do pesadelo das mãos frias...
E como o anjinho débil que renasce,
Chora, chora e sorri, qual se encontrasse
A luz primeira dos primeiros dias.

2
Ah!... se a Terra tivesse o amor, se cada
Homem pensasse no tormento alheio,
Se tudo fosse amor, se cada seio
De mãe nutrisse os órfãos... Se na estrada
Do contraste e da dor houvesse o anseio
Do bem, que ampara a vida torturada,
Que jamais viu um raio de alvorada
Dentro da noite eterna que lhe veio
Do sofrimento que ninguém conhece...
Ah! se os homens se amassem nessa estância
A dor então desapareceria...
A existência seria a ardente prece
Erguida a Deus do seio da abundância,
Entre os hinos da paz e da alegria.

Fonte:Parnaso Além Túmulo, Psicografia de Francisco Cândido Chavier, Editora FEB, 1932.

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