segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

A relação mãe-feto e as repercussões futuras para ambos



Nos últimos anos, um crescente número de pesquisas (Correia & Linhares, 2007; Piccinini, Marin, Alvarenga, Lopes, & Tudge, 2007; Watcher, 2002) têm estudado os processos através dos quais as pessoas estruturam, desenvolvem e mantêm laços afetivos ao longo do ciclo vital (...)

Nessa perspectiva, encontra-se a teoria do apego, igualmente nomeada como teoria da vinculação, formulada por Bowlby (1969/1984). Trata-se de uma concepção teórica do desenvolvimento sócio-emocional que considera a existência de uma necessidade humana inata para formar laços afetivos íntimos com pessoas significativas. Essa propensão já estaria presente no neonato em forma embrionária e continuaria na infância, vida adulta e velhice.

No período da infância, os vínculos são estabelecidos com os pais ou substitutos que são procurados na busca de conforto, carinho e proteção (...)

Na adolescência e vida adulta, esses laços persistem, sendo complementados por novos vínculos Para explicar tal processo, Bowlby (1989) utilizou o conceito de modelo interno de funcionamento, por meio do qual a criança constrói uma imagem de si mesma e de seus cuidadores que influencia o que ela sente em relação a ambos.

Esse modelo desenvolvido durante a infância evolui na medida em que a criança cresce, passando a fazer parte de sua personalidade, transformando-se em uma representação mental da relação de apego, que tende a persistir ao longo da vida e exerce influência nas futuras relações afetivas Nos primeiros anos de vida, a reciprocidade dos pais para responder às necessidades da criança e a qualidade da interação favorecem o desenvolvimento de um senso de segurança, uma noção de bem-estar e confiança que será utilizada como base para o conhecimento e exploração do ambiente.(...)

A partir dessas experiências, a criança vai estruturando um tipo de apego que é influenciado pela interação que estabelece com seus pais, ou substitutos.

A qualidade do relacionamento de apego entre os pais e seus progenitores reflete-se em seu estilo de apego com a criança e o modelo internalizado de apego da mãe está relacionado com a habilidade de entender e responder às necessidades de seu filho (...)

Desse modo, a representação mental do adulto, das suas próprias relações precoces de apego, reflete-se nos subsequentes comportamentos parentais. (...)

O Apego Materno Fetal (AMF) é um termo usado para descrever os comportamentos e atitudes da mulher de adaptação à gravidez (...)[é] a intensidade com a qual a gestante manifesta comportamentos que representam a afiliação e a integração com sua criança intra-útero.

Essa questões, ainda em discussão, poderão refletir em como a futura mãe se relacionará com o bebê (de uma forma ansiosa, depressiva, saudável) e como isso repercutirá nos futuros vínculos afetivos e sociais que esta criança terá no futuro.


Referências do texto: Paidéia maio-ago. 2009, Vol. 19, No. 43, 211-220

Para saber mais:

Bowlby, J. (1984). Apego: A natureza do vínculo. São Paulo: Martins Fontes. (Original publicado em1969).

Bowlby, J. (1989). Uma base segura: Aplicações clínicas da teoria do apego. Porto Alegre: Artes Médicas.

Brazelton, T. B., & Cramer, N. G. (1992). As primeiras relações. São Paulo: Martins Fontes.

Piontelli, A. (1995). De feto a criança: Um estudo observacional e psicanalítico. Rio de Janeiro: Imago.

Wilheim, J. (2000). Psiquismo pré e perinatal. In N. A. Caron (Org.), A relação pais-bebê: Da observação à clínica. São Paulo:Casa dp Psicólogo

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