domingo, 20 de janeiro de 2008

Estado de alerta !




O país enfrenta a segunda maior epidemia de dengue da história, com a atenção voltada para a forma hemorrágica em algumas regiões brasileiras. A seguir, as manifestações clínicas, os tratamentos e as pesquisas da vacina contra o vírus.


Brasil se vê novamente ameaçado pelo mosquito Aedes aegypti, depois da epidemia de 2002, quando o número de casos de dengue chegou a quase 800 mil. O Ministério da Saúde estima que, em 2007, aproximadamente 530 mil pessoas contraíram a doença, a segunda maior marca da história. E a ameaça tende a persistir. Um mapeamento já revela as regiões que estão mais suscetíveis à doença, considerando, principalmente, a ocorrência de surtos causados pelo vírus DEN - 3 , o mais prevalente no país. O vírus causador da dengue possui quatro sorotipos (DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4) e apenas o tipo DEN-4 não é encontrado aqui. O levantamento aponta que o risco de uma epidemia é maior nas regiões metropolitanas de Belo Horizonte, Belém, Campinas e São Paulo e no município de Manaus. "Estas são as áreas mais preocupantes porque não tiveram surtos com o sorotipo DEN-3 no passado", informa Fabiano Pimenta, secretário adjunto de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.


"O sorotipo DEN-3, introduzido no Brasil no início desta década, é predominante e representa 79% das amostras isoladas entre janeiro e setembro de 2007", completa Pimenta.O sorotipo DEN-2 responde por 17% das amostras e é mais freqüente nos estados do Ceará, Maranhão, Piauí e Roraima (leia mais informações sobre dados epidemiológicos da dengue no quadro abaixo). Dos mais de 480 mil casos registrados entre janeiro e setembro de 2006, último período com contabilidade oficial, 1.078 eram relativos à dengue hemorrágica, forma mais grave da enfermidade, e 121 terminaram em óbito - número que só perde para os 150 óbitos confirmados de 2002, o pior ano da doença no país.


A preocupação com a forma hemorrágica é maior nos estados do Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Goiás, Roraima, Amapá, Ceará, Piauí, Maranhão e Bahia. Essas áreas tiveram anteriormente epidemias de maior magnitude dos três sorotipos. As autoridades também estão atentas à entrada no país do sorotipo DEN-4, que é encontrado na Venezuela e na Colômbia.Considerado um dos principais problemas de saúde pública no mundo, a dengue acomete anualmente entre 50 milhões e 100 milhões de pessoas em mais de cem países de todos os continentes, exceto a Europa, segundo a Organização Mundial daSaúde (OMS).


Cerca de 550 mil doentes necessitam de hospitalização e 20 mil morrem em conseqüência da enfermidade.SintomasA infecção por um sorotipo confere proteção permanente para este e imunidade parcial e temporária contra os outros três sorotipos.


Na primeira vez em que uma pessoa é infectada por qualquer um dos quatro sorotipos de vírus, ela contrai adengue clássica - embora, em situações mais raras, já possa desenvolver a dengue hemorrágica. A probabilidade de manifestar essa forma mais grave da doença aumenta se ela sofrer um novo contágio por qualquer um dos outros três sorotipos. "As estatísticas apontam que cerca de 90% dos casos de dengue hemorrágica ocorrem em pacientes que haviam contraído anteriormente a doença", afirma o infectologista Stefan Cunha Ujvari, médico do corpo clínico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, de São Paulo.


A dengue clássica apresenta-se geralmente com febre alta com início súbito, dor no fundo dos olhos (também conhecida como "dor atrás dos olhos"), que piora quando eles se movimentam, forte dor de cabeça, perda do apetite e paladar, náuseas, vômitos e diarréia, tonturas, cansaço extremo, manchas e erupções na pele, principalmente no tórax e nos membros superiores, e dores generalizadas no corpo, em especial nos ossos e nas articulações. Esses sintomas surgem de três a quinze dias depois da picada pelo mosquito infectado.


As manifestações clínicas iniciais da dengue hemorrágica são as mesmas descritas para a dengue clássica, e entre o terceiro e o sétimo dia da doença, quando o quadro febril dá mostras de estar cedendo, a síndrome se instala. Além da redução do número de plaquetas (para menos de 50 mil por milímetro cúbico de sangue) e da alta concentração de hemácias (hematócrito elevado), surgem os chamados sinais de alerta, como dores abdominais fortes e contínuas, vômitos persistentes, pele pálida, fria e úmida, sangramento pelo nariz, boca e gengivas, manchas vermelhas na pele, sonolência, agitação e confusão mental, sede excessiva e boca seca, pulso rápido e fraco, dificuldade respiratória e perda de consciência. "O quadro clínico do paciente pode se agravar rapidamente, apresentando sinais de insuficiência circulatória e choque, podendo levar à morte em até 24 horas", diz Ujvari. "A base da dengue hemorrágica é uma inflamação nos vasos sangüíneos, com aumento da permeabilidade e fragilidade. Isso favorece o rompimento dos vasos e o sangramento", explica o especialista.


De acordo com estatísticas do Ministério da Saúde, cerca de 5% das pessoas com dengue hemorrágica morrem. O objetivo é reduzir esse número para menos de 1%.TratamentoPara evitar complicações, pacientes que já contraíram a forma clássica da doença devem ser orientados a buscar atendimento médico imediatamente em caso de reaparecimento dos sintomas agravados com os sinais de alerta.


Como ainda não existem medicamentos nem vacinas comprovadamente eficazes contra o vírus , o tratamento da doença é de suporte e alívio dos sintomas. A reidratação oral é medida fundamental e deve ser realizada durante todo o período de duração da doença. O paciente deve manter-se em repouso e o médico deve tratar as dores de cabeça e no corpo com analgésicos e antitérmicos (paracetamol ou dipirona).


Devem ser evitados os salicilatos, como AAS e aspirina, pois seu uso pode favorecer o surgimento de manifestações hemorrágicas. Os pacientes com febre hemorrágica da dengue (FHD) precisam ser internados e cuidadosamente observados para identificação de possíveis complicações, como sangramentos, queda de pressão, choque, acidose, comprometimento pulmonar e renal, entre outras. A utilização de soro fisiológico por via endovenosa é medida padrão no atendimento aos doentes.


Três exames podem ser utilizados para identificação da dengue hemorrágica: prova do laço, contagem de plaquetas e hematócrito, que mede a concentração de hemácias no sangue. A prova do laço é um exame de consultório, no qual o médico prende a circulação do braço do paciente com uma borracha e verifica se há pontos vermelhos sob a pele (sinal de hemorragia). Esse exame deve ser realizado obrigatoriamente em todos os casos suspeitos de dengue durante o exame físico. Os outros dois testes são feitos por meio de uma amostra de sangue em laboratório.


De acordo com o documento "Dengue: Diagnóstico e Manejo Clínico", da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, para ter alta hospitalar, os pacientes de dengue hemorrágica precisam preencher os seis critérios a seguir:

- apresentar melhora visível do quadro clínico; ausência de febre durante 24 horas, sem uso de terapia antitérmica; hematócrito normal e estável por 24 horas; plaquetas em elevação e acima de 50 mil; estabilização hemodinâmica durante 24 horas; e derrames cavitários em reabsorção e sem repercussão clínica.

OMS (Organização Mundial de Saúde) classifica a dengue hemorrágica em quatro graus conforme o nível de gravidade, sendo o último deles caracterizado por choque profundo com pressão arterial e pulso não detectáveis. Por conta da gravidade da doença - mesmo da forma clássica -, a população deve estar informada de que todo tratamento deve ser feito sob orientação médica. Segundo Stefan Ujvari, os médicos que prestam atendimento às vítimas da dengue devem ficar atentos para o fato de que o período crítico da febre hemorrágica da dengue ocorre durante a transição da fase febril para a sem febre. Com a ausência de febre, a pessoa tem a falsa impressão de melhora, mas em seguida o quadro clínico piora.


Existe um material, produzido em parceria com o Núcleo de Saúde Coletiva e Nutrição da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Associação Médica Brasileira (AMB) e o Conselho Federal de Medicina (CFM), traz informações sobre os sintomas da doença, o diagnóstico e os procedimentos a serem adotados no atendimento às vítimas. Além disso, um guia atualizado de diagnóstico e clínica médica está disponível no site do próprio Ministério: http://www.saude.gov.br/. Com o tema "Combater a dengue é um dever meu, seu e de todos. A dengue pode matar", a campanha do governo tem como objetivo principal mobilizar a população contra a doença.


Fonte: http://www.revistapesquisamedica.com.br

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