quinta-feira, 12 de julho de 2007

A Dependência Química Enquanto Efeito da Sociedade Contemporânea


A sociedade contemporânea, precisamente o século XXI, é marcada por mudanças de paradigmas, culturais, sócio-econômicas e de valores, que implicam necessariamente em uma re-adaptação do indivíduo em seu meio. Frente a tantas mudanças, que não deixam de interferir no afeto e no comportamento, o sujeito em sua unicidade e a própria coletividade têm sentido os efeitos desses impactos.

Ao contrário do que pensa o senso comum, a dependência química não é uma causa dos males atuais da sociedade mas um dos efeitos do caos em que emerge esta mesma sociedade. A falta de identidade contemporânea tem trazido ao indivíduo uma necessidade de se alienar de toda a angústia conseqüente. Por outro lado, paradoxalmente, quando o indivíduo busca as drogas, este tem uma possibilidade de encontrar a identidade perdida por meio da identificação grupal.

Relacionamentos e Qualidade de Vida:

A sociedade contemporânea é marcada pelo individualismo capitalista. A necessidade crescente da qualificação, da capacitação e da informação, é um processo solitário, mesmo que aconteça em grupo. A internet e as possibilidades cada vez maiores de o indivíduo poder resolver seus problemas via computador, fazem com que as relações interpessoais cotidianas sejam cada vez mais desnecessárias. Esse individualismo, muitas vezes extremo, abandona a vida social aos aparelhos de gestão e os mecanismos de mercado, uma vez que a liberdade tem-se reduzido a um ato de consumo.

Desta forma, ao contrário do que acontecia nas sociedades tradicionais, a sociedade contemporânea não é muito apropriada para sustentar amizades. As amizades, que outrora eram preservadas desde a infância, hoje estão cada vez mais superficiais. Uma das grandes queixas do indivíduo usuário de drogas é a solidão, é a falta de amigos. Anthony Giddens salienta a importância de uma democratização da vida pessoal na qual a fonte estrutural desta promessa é a emergência do relacionamento puro, não apenas na área da sexualidade, mas também naquelas das relações pais-filhos, e em outras formas de parentesco e amizade. Percebe-se, então, que as relações hoje estão, além de superficiais, cada vez mais efêmeras.


A droga serve, nesse momento, como uma via de “contramão” do individualismo contemporâneo, uma vez que a liberdade é definida de maneira privada.

Quanto aos relacionamentos, um outro tópico a ser levantado é a sexualidade. Uma das grandes revoluções da nossa cultural foi a revolução sexual do século XX. A sexualidade foi descontextualizada e gerou-se a idéia errônea de que a felicidade estaria presente na variedade e na freqüência dos encontros sexuais em detrimento de sua intensidade e profundidade.


Paradoxalmente, percebe-se no indivíduo contemporâneo que, quanto mais ele busca sua essência nos relacionamentos sexuais, mais distante ele fica deste encontro.


As drogas, assim como o sexo desenfreado, proporcionam ao indivíduo uma falsa possibilidade da busca frustrada de uma auto-identidade e um efeito da sexualidade contemporânea é a exacerbação do sexo e a hiper-realidade sexual. Fazendo-se um paralelo desta realidade sexual com as drogas, percebe-se a necessidade dos indivíduos, principalmente os adolescentes, de irem em busca de sensações que extrapolam as já geradas pela vida cotidiana.

A sexualidade é também um efeito dos diversos momentos históricos da sociedade. Para Focault, a invenção as sexualidade foi parte de alguns processos distintos envolvidos na formação e consolidação das instituições sociais modernas.


Enquanto no passado a sexualidade era reprimida, hoje podemos perceber a sexualidade sendo de todas as formas encorajadas e com uma forte influência da sociedade de consumo, que dá a ilusão de uma realização sexual. Desta forma, assim como as amizades e as famílias, os relacionamentos sexuais tornam-se também cada vez mais efêmeros.

2 comentários:

paula disse...

você escreve e argumenta muito bem. acho muito interessante como tanto as drogas como o sexo perderam seu contexto de libertação dos anos 60 e hoje não passam de mecanismos para deixar a vida menos chata e mais suportável.

Anônimo disse...

oi!
vlw pelo coment!
hum...
seu blog é bem legal!
to fuçando nele aki!
t+

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